Levantei cedo aquela manhã. Coloquei Razão
e Sensibilidade em baixo do braço e fui até a cafeteria do outro lado do prédio
onde moro. A cafeteria da esquina é o meu lugar preferido no mundo. Todos os
dias eu tomo um delicioso café enquanto leio meus livros e fumo alguns
cigarros. Gosto da grande placa de neon que anuncia "La Esquina
Café", das paredes rústicas de pedra com quadros de grandes cantores e
discos de vinil pendurados pelo local. Sento-me na mesma mesa de canto toda
manhã. Ela fica ao lado da grande janela, no ambiente para fumantes. Eu vejo
como ambiente para apreciadores da natureza, com uma vista incrível para o
jardim de inverno da Sra. Dolce, a proprietária e garçonete do La Esquina
Café.
– Bom dia Sra. Dolce. O mesmo de
sempre, me surpreenda, por favor. – Respondi
enquanto abria meu livro sobre a mesa.
– Pode deixar querida, surpreender é
minha especialidade.
Havia poucos clientes, cinco no máximo,
como de costume. A antiga vitrola tocava Dream
A Little Dream Of Me de Louis Armstrong e eu tragava meu cigarro enquanto
esperava meu café. Logo Carrie, a filha mais jovem de Dolce me trouxe uma
xícara de irish coffee grande. Uma espécie de expresso com Uísque e eu agradeci. Dolce era uma mulher incrível de fato,
tratava seus clientes com muita cortesia e atenção. Sempre sabia do que o
cliente precisava e era teimosa quando um cliente pedia o que não precisava,
lhe trazendo o que seu coração necessitava. Seus sentidos nunca estavam
errados.
– Aqui esta seu especial
senhorita. Negro como o diabo, quente como inferno, puro como um anjo e
doce como o amor. Minha
mãe mandou lhe dizer que as vezes é necessário beber antes de comer algo pela
manhã.
– Obrigado Carrie,
agradeça a Sra. Dolce por mim.
Observei a xícara quente
levantar fumaça, adicionei colheres de chantilly e mexi o café devagar. Medi
minha vida em colheres de açúcar e adocei minha xícara de vida. Comecei a ler
um novo capitulo do livro.
O sino de clientes em
cima da porta tocou e um homem apressado entrou sentando-se a duas mesas de
distância de mim. Após perder a atenção com o sino, retomei a leitura. Ele
falava alto demais e pude ouvir bem ele pedindo um pequeno expresso para Dolce
que sorrio e foi para a cozinha. Desviei os olhos do livro novamente e observei
o homem sentado, lendo o jornal. Ele tinha cabelos escuros e pele clara, usava
um gorro e um casaco de couro, mas o que chamou minha atenção foi a pasta
formal que ele carregava. Talvez fosse um jovem indo para uma entrevista de
emprego. Um jovem que não sabia como se vestir para uma entrevista, imaginei.
– Aqui esta seu café
expresso Sr... – Dolce falou enquanto colocava a xícara na mesa.
– Vincent, por favor, me
chame de Vincent. – O homem
respondeu sem tirar os olhos do jornal.
– O senhor nunca dá risada antes do seu primeiro café não é
mesmo? – Ela o encarou com um olhar gentil.
– A senhora acertou, primeiro o café, depois o dia começa. Mas achei que
iria me trazer algo revolucionário, todos dizem que a senhora surpreende seus
clientes com o que eles precisam. – Ele falou um pouco desanimado.
– Sim, dou aos meus clientes o que eles precisam e com o senhor não foi
diferente. O expresso é a bebida favorita do mundo civilizado e o senhor...
Vincent, é um futuro homem de negócios, imagino que queira se adaptar a vida de
executivo o quanto antes. Enfim, deixarei o senhor em paz e espero que tenha
gostado do La Esquina Café. – Ela disse ao homem com ternura no olhar e
saiu para atender os demais clientes.
Observei ele cuidar a saída da Sra. Dolce com o queixo caído
literalmente e dei uma pequena risada. Ele se virou e olhou para minha mesa.
Minhas bochechas brancas cheias de sardas ficaram extremamente vermelhas,
desviei o olhar e tomei um gole do meu café desejando desaparecer da cafeteria.
Foi então que ele deu uma gargalhada escandalosa.
– Você tem algum problema? Do que esta
rindo? – Sussurrei séria encarando o homem.
– Você esta com um bigode de chantilly moça, me desculpe, sei que não
devo rir da senhorita, mas não contive o riso. – Ele respondeu com ar de
deboche.
– Passei o antebraço sobre a boca como se fosse uma criança limpando os
lábios sujos – Obrigada por avisar e me desculpe ter sido tão mal
educada. – Falei envergonhada e hipnotizada por aqueles olhos castanhos
tão profundos.
– Tudo bem, começamos com o pé esquerdo e você rindo da minha tolice
também não ajudou muito. Prazer me chamo Vincent.
Notei como ele estava curvado sobre a mesa cochichando para mim e eu
para ele a duas mesas de distancia. Dolce observava atentamente a cena por trás
do caixa e pude perceber que ela acenou com a cabeça para mim. Voltei a olhar
para ele e respondi.
– Muito prazer, Eu sou a Sofie.
CONTINUA....
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